19/10/2015

Isto é a Casa do Gaiato



(...) Ontem houve um grande barulho nas mesas do fundo, no refeitório, à hora de comer. Assustei-me, e pedi ao chefe que fosse ver. Foi, mas o "Rio Tinto" já lá estava, a botar água na fervura. Amadeu "Elvas" servia-nos, fleugmático como um inglês.
- "Elvas", que é aquilo?
- É batatas!
Os grandes sarilhos do mundo, são sempre determinados por batatas, ou os seus equivalentes.
                                                             
                                                                      * * *

O " Chegadinho" disse aos seus companheiros que se ia embora. Vestiu-se com roupa do Desemprego; nas mãos, um embrulho com mais roupa e assim se vem despedir. Era um domingo, cinco da tarde. O comboio, passa em Cete às 6 e quê. Um dos chefes vem com ele, pronto a acompanhar o rapaz à estação.
Dialogámos. Tu não tens mãe, rapaz. Para quem vais tu? Não tens casa. Não tens amigos. Não tens trabalho.
A Súplica foi escutada. É absolutamente impossível que a sinceridade das palavras não arranque decisões. O "Chegadinho" ficou.
O "Compadre-Chegadinho", acaba de iluminar mais uma página do nosso livro. São eles que o escrevem. Eles que fazem a Obra. É por eles que tu choras. Por eles morreu o Amor! (...)
                                                                  * * *
Antes do linho, andou na eira o centeio. Veio de Penafiel, do Grémio da Lavoura, a máquina de debulhar. Ele foi muito depressa, sim. Num instante se acabou. Foi, também, mais económico. Eu cá antes queria a malha à moda dantes! Os malhadores mais falados. Os manguais. O cantar, o pedir infusas. A sopa seca. O arroz de forno. O presunto cozido em caldo de repolho. As larachas. Os ramos de cravos. Os lenços garridos das moças. Começa a festa:
" A viola quer que eu cante
   As cordas quer que eu padeça
   O moço que está tocando
   Quer que que eu por ele endoideça."
Sim. Eu queria tudo à moda dantes. Agora, pior. A máquina!  A força! Um borrão de tinta nas páginas mais formosas que o nosso Povo sabe escrever, na vida dos campos e das eiras!
Tenho pena! (...)

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